segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Relato de uma consulta

Relato de uma consulta
(Ellen Crista da Silva)

Desde que li o artigo “Placas palatinas e tratamento ortodôntico para pessoas com Síndrome de Down segundo Conceito Castillo Morales”, constante nos “ Anais do IV Congresso Brasileiro de Síndrome de Down”, pensei que pudesse fazer algo com relação ao Vinícius. 

Este artigo foi escrito e apresentado no Congresso pelas doutoras Letícia  P. De G. Silveira e Rosane Lowenthal. Os aspectos e características mencionados no artigo conferiam  com aspectos e características presentes no Vinícius, tais como alterações no sono (sono noturno agitado), sonolência diurna (por exemplo, quando está no carro), alterações na atenção, além de outros.

Desde que tive em mãos o artigo, dei-lhe atenção. E pesquisei por algum tempo sobre o Conceito Castillo Morales, na internet. Procurei também pelas autoras e consegui contato com a Dra. Rosane. Conversamos ao telefone e acabei por marcar uma consulta com o Vinícius. Esta consulta ocorreu no dia 17/01/2011, às 14:00, na cidade de São Paulo. 

Vamos a algumas perguntas:

1. Por que a procura por este “Conceito Castillo Morales” e não um tratamento ortodôntico comum? Por que foi a primeira e única vez que alguém tratou de aspectos de desenvolvimento crânio-funcionais e alterações mio-funcionais em Síndrome de Down, dando atenção a particularidades percebidas no Vinícius, por exemplo.

2. Por que justamente esta doutora e não outra, numa cidade mais próxima? Por que existem apenas 3 profissionais habilitados neste campo no Brasil: a Dra. Rosane, a Dra. Letícia e outro profissional que atua em Campinas.

3. Por que justo agora? Por que, segundo conversa ao telefone, ainda se pode fazer alguma coisa com o Vinícius, embora seja um adulto. Esta é a melhor parte! Tomara que consigamos que o Vi tenha uma qualidade de vida melhorada.

4. O que foi observado e que chamou a atenção, além do já mencionado? Sempre foi dito que na Síndrome de Down a língua é maior que numa pessoa dita normal... e neste artigo explica-se que a língua é, em geral, do tamanho normal, mas o que ocorre é que a estrutura crânio-facial e de todo o aparelho de mastigação e respiração é menor. 

Durante a Consulta: fomos questionados, tanto o Vinícius quanto eu, a respeito de seu desenvolvimento e comportamento.  Tive de levar todos os exames, inclusive as fichas dos pediatras , para passar com precisão todos os dados solicitados, tais como: qdo começou a andar, a falar, etc... se frequentou escolas, quais, etc... Foi uma consulta bem demorada! Após foi feito exame físico bucal e também postural, pois o Conceito Castillo Morales trata do paciente “dos pés à cabeça”... não apenas a parte ortodôntica. Comprova a Dra. que a parte ortodôntica está intimamente relacionada com toda o ‘comportamento’ físico da pessoa. E  assim ela passou algumas informações bem interessantes:

- O Vi tem pé-chato e este aspecto é mais acentuado em um dos pés.  Esta formação plantar exige ‘compensações’ da estrutura física e são percebidas numa distenção do joelho (basta observar quando fica em pé, como ele força o joelho numa posição incomum) que por sua vez exige uma postura diferenciada do abdomen (ele não é barrigudo, tudo é consequência deste pé-chato e de uma hipotonia peculiar da Síndrome de Down) e, consequentemente, o corpo se compensa novamente numa postura diferenciada dos ombros... e isto tudo vai refletir na arcada dentária. 
Por isso, um dos primeiros passos é tentar corrigir a base física do corpo, o pé, com algum tipo de palmilha, provavelmente. Posteriormente, após outros exames, isto será definido.

- A ausência de mastigação, deglutição e fala (r = l, por ex.; ou inexistente, como por ex., Gab’iel e não GabRiel) são causadas, principalmente, pela presença de músculos oro-faciais hipotônicos. Acontece no Vi e, como os pelos das narinas não oferecem resistência à entrada do ar, por causa desta hipotonia presente na musculatura, a respiração também sofre alterações. E aí vem as alterações no sono, o dedo mastigado (pois usado para facilitar a respiração durante o sono), o auxílio das pernas, levadas ao alto durante o sono ou mesmo a posição ‘sentado’, durante o sono (todos usados para facilitar a respiração durante o sono). Para proceder um diagnóstico e uma conduta posterior adequada ao caso do Vi, foi solicitado uma polissonografia, ou seja, um daqueles exames que se fazem durante o ‘sono’.

- O Vi tem um dente canino incluso, isto é, o dente não nasceu mas está presente, em todo o seu tamanho, na arcada dentária. Novos exames terão de ser feitos para saber se este dente está ‘quietinho’ no seu canto ou se está atingindo alguma raiz de outro dente. Se estiver interferindo na raiz de outro dente, terá de ser extraído.  Se estiver ‘quietinho’, não será mexido nele. Após estes exames é que serão estudadas as medidas e aparelhos e tudo o mais que poderão proporcionar ao Vinícius uma melhor qualidade de sono e de vida. 

- Outro aspecto a acrescentar no item acima é a oclusão ‘cuzada’ no caso do Vinícius. Isto é, a arcada fecha ao contrário: em vez da de cima passar pela arcada de baixo, acontece o contrário; a de baixo passa pela de cima. Ele tem assim, uma mastigação ‘cruzada’. 

Ainda questionando sobre a atuação da doutora, disse-me ela que estagiou e acompanhou pessoalmente o Dr. Castillo Morales, um pesquisador argentino. Atuou e trabalhou com ele por vários anos, tanto na Argentina quanto na Alemanha. E a Dra. Rosane é a única profissional habilitada, no Brasil, a atuar como professora nesta área.

E sempre lembrando que, a melhor respiração diz respeito a uma melhor oxigenação no cérebro e, consequentemente, uma melhor absorção de ideias, de concentração, atenção, enfim, tudo de bom e de melhor! Creio que o Vinícius poderá se beneficiar, e muito, com o tratamento!

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