segunda-feira, 21 de junho de 2021

Percebendo-se no espaço

 

É interessante que agora tentemos analisar o processo no qual a criança atinge essa capacidade de perceber-se nesse espaço. Ela é ainda uma todo. A criança não tem essa estruturação orgânica em três sistemas nem as estruturas corporais desenvolvidas, e seu corpo físico, corpo etérico, astral e Eu são simples possibilidades. Isto é, podem ou não se desenvolver de forma correta. A criança, além de ser um todo, é, também, toda ela uma possibilidade.

A partir do seu nascimento, trazendo já a matéria programada, com suas possibilidades individuais, trazendo seu carma particular, a criança depende, mais que qualquer outro ser vivo sobre a Terra, do ambiente e dos adultos que tomarão conta dela. Isto não deve ser deixado como algo supérfluo, considerando que a força da individualidade possa ser capaz de superar qualquer obstáculo.

Pois, o que dizer se deixarmos por conta de tal individualidade forte a própria alimentação? A criança é o único ser que nasce tão desprotegido e tão desajeitado com as coisas da Terra. Nenhum ser precisa tanto do tempo como o ser humano. Ele leva muito tempo para aprender a lidar com os elementos da Terra; precisa de tempo e treinamento para aprender a usar seu corpo, a transformar esse corpo herdado em seu próprio, e a liberar o corpo etérico do atuar modelador do organismo, para se transformar em forças anímicas do pensar. Ele precisa da infância, longa infância. Mas não só do tempo ele necessita. O tempo é portador das possibilidades: ele não tem em si as possibilidades, mas ele dá a oportunidade para que processo, eventos, desenvolvimentos possam ocorrer, se transformar, amadurecer. Ele é como um cálice, onde podem ser depositados conteúdos, que ali encontrarão o ambiente onde podem se desenvolver. O tempo é o “espaço” onde as leis inerentes da substância, seja ela física, etérica, astral ou espiritual, encontram a oportunidade para cumprirem seus processos, para alcançarem suas metas e revelarem suas inerentes qualidades intrínsecas. O espaço revela a forma; o tempo; a essência. A forma, para se concretizar, também precisa do tempo; a essência, para se revelar, precisa, também, do espaço. Isto não é mero jogo de palavras!

Vendo a criança pequena, que deve ser considerada como um todo, onde as naturezas neurossensorial, volitiva e emocional não são estruturadas de forma tríplice, como mais tarde o serão; vendo como ela ensaia seus gestos; como ela tenta se orientar no ambiente da sala, por ex., para tocar aquele objeto brilhante sobre a mesa, que lhe estimula sensorialmente; como ela bate com a cabeça na beirada da mesa, pois não tem noção da altura; como ela quer atravessar pela porta fechada, dando uma “trombada”, caindo sentada e começando a chorar; em tudo isso vê-se o seu “treinamento”, através do sofrimento físico, para estabelecer uma imagem dos seus limites corporais.

Isto é, até que ela possa tomar seu corpo como um referencial de experiência, separado do referencial que no espaço exterior é representado pelos objetos, móveis, outras pessoas etc. Esse distanciamento só ocorre porque o organismo sensório se desenvolveu o suficiente, para servir-lhe como uma “proteção” física. Ela, agora, já não precisa sofrer com uma cabeçada na ponta da mesa, porque já pode se desviar, adequar melhor seus gestos, para conquistar aquilo que ela quer.
Mas, isto é só o começo de um longo processo de aprendizagem. Aprender, para esta etapa da vida, é saber ler no ambiente e escrever com seus gestos; é cada vez mais descobrir sensorialmente o ambiente, suas “leis” e, pela magia, vivenciar tudo o que nele está contido.

Portanto, depende muito do ambiente aquilo que a criança poderá desenvolver através das suas mágicas vivências. Ela imita tudo, como um ser global que é, até os pensamentos dos que estão a sua volta. Tudo entra nela com percepções poderosas que a marcarão para o resto da vida. O cuidado com o ambiente onde a criança deverá se desenvolver, a qualidade moral das atitudes, pensamentos e sentimentos dos adultos que dela cuidam, o refinamento daquilo que como cores, sons, linguagem etc. tudo, enfim, que entra nela como uma corrente de forças formativas, que alimentarão sue corpo etérico, precisa ser olhado com bastante atenção.

Extraído de: DIAS, Lucinda. Problemas de Aprendizagem – Procedimentos pedagógico-terapêuticos nas dificuldades de encarnação. Editora Antroposófica. 1995.

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