segunda-feira, 5 de julho de 2021

Crianças que necessitam de cuidados especiais

Arquivo pessoal

“Aspectos de Deficiências do Desenvolvimento”! ”O Ambiente da Criança Deficiente”

Em uma sociedade cientificamente orientada, a educação é vista mais como uma das ciências do que como uma arte. A educação como arte cultiva e orienta uma criança como pessoa em crescimento. Aqui, a inteligência testável é pouco relevante: isto se confirma pelo fato de se tornar estacionária na adolescência justamente quando a maturidade da personalidade aumenta de maneira rápida.

A educação como ciência fornece informações e desenvolve habilidades em crianças desde a idade escolar, o que, sem dúvida, é um aspecto importante da educação, mas de nenhuma forma o único.

O desenvolvimento infantil pode ser visto como a integração de dois processos – um que se origina da hereditariedade, passado genético e que começa pela separação do corpo individual no nascimento. O outro está ligado à evolução histórico-mitológica da raça humana, que não se inicia a partir de um começo isolado, individual e centralizado, mas de alcances muito mais periféricos. A integração progressiva destes dois processos acontece em um ambiente que é ao mesmo tempo físico e cultural, representado pela mãe, pai e família, no início, e depois pelos professores e outras pessoas, além das instituições, convenções e tradições em contato com as quais uma criança é colocada ao nascer, como também pelas condições geográficas, climáticas e biológicas.

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Falhas no desenvolvimento não devem ser vistas como condições isoladas, mas como fenômenos que podem combinar-se com outros de diferentes maneiras. De fato, aquilo que é considerado como um desenvolvimento normal não é nada mais do que um equilíbrio relativamente harmonioso entre as possíveis e diversas aberrações e falhas às quais o desenvolvimento está exposto. A cabeça é a parte sensível do organismo. É carregada e servida pelo corpo. Precisa ser transportada como um rei ou um ministro de Estado em sua carruagem. Precisa ser suprida com sangue e oxigênio pelo corpo. A cabeça é a observadora, a planejadora e a organizadora, mas não a feitora nem a movimentadora. É de fato um príncipe, o aristocrata da organização corporal.

 Uma criança deficiente é mais vulnerável e menos articulada do que seus irmãos e irmãs normais. Nem mesmo no lar, onde está encaixada no contexto de sua família, pode manifestar a seus pais ou a si mesma sua experiência de significados primários, o que não quer dizer, naturalmente, que ela não tenha estas experiências. Mas são elas difusas, anônimas, sem forma nem contorno. Consequentemente, uma criança deficiente precisa ainda mais de um ambiente escolar diferenciado e articulado, no qual possa amadurecer e aprender.

Não quero dizer “Se não fosse a graça de Deus eu também estaria lá!” Ao invés, eu quero dizer: esta criança tem alguma para ensinar-me sobre a graça de Deus, que não é nada mais do que o mais primário dos significados. Isto é a ligação recíproca, o dar-e-receber entre crianças e os adultos a quem elas são confiadas para sua educação e seu treinamento. Elas vem para receber aquilo que seus professores pode dar e, em troca, dão a seus professores autoconhecimento com um gesto carinhoso e generoso, mas inconfundível. Tanto para suas aulas de arte como para a terapia em grupo, uma criança se encontrará mais uma vez com diferentes crianças e também outros adultos, e assim estenderá a rede de relacionamentos diferenciados por toda a comunidade, disto resultando que, quando toda a comunidade está reunida para eventos maiores no salão de festas ou vai à cidade para assistir peças de teatro ou concerto, está completamente à vontade e ajustada ao grupo maior, pois durante as atividades terá conhecido todo mundo, tanto grandes como pequenos, na comunidade.

 Não é só a criança deficiente que adquire sua maturidade da experiência de poder ajudar outros: somos também nós que precisamos nos seja permitido ajudar outros de uma maneira significativa se quisermos realizar completamente nossa existência amadurecida. Sem margem de dúvida, da maioria das crianças seriamente deficientes e perturbadas que conseguem frequentar escolas especiais, somente um número relativamente pequeno competirá em condições de igualdade na vida adulta. A grande maioria necessitará do apoio de um ambiente direcionado para as necessidades específicas da pessoa adulta deficiente. 

Uma pessoa deficiente pode trabalhar por certo número de anos em uma comunidade terapêutica de proteção e, então, em determinado momento de sua vida, decidir deixá-la e procurar emprego no mercado livre. Essa decisão pode ser determinada por uma série de fatores. Um dos  fatores é que  a pessoa deficiente, tendo-se afirmado, não mais precisa do grau de tolerância e proteção anteriormente solicitados,  e deseja cuidar de si mesma. Fundamentalmente, um homem não trabalha a fim de ganhar seu sustento. Ele trabalha porque necessita trabalhar para conseguir expressão e realização próprias. Mas nossa sociedade de hoje não reconhece a relação fundamental do homem para com seu trabalho como realização própria. A motivação que admite é do lucro e riqueza. Neste caso, não há colocação viável para uma pessoa deficiente. Ela deve experimentar o significado existencial do trabalho, se pretende de alguma maneira estabelecer-se como pessoa.

Fazendo um parêntese, deve-se dizer que as habilidades e o talento frequentemente notáveis das pessoas psicóticas e autistas passam por considerável grau de “normalização” ou racionalização na vida da oficina de trabalho, onde suas habilidades transformam-se de fixação e obsessão em vantagens na produção. É interessante o fato de que uma pessoa seriamente retraída ou psicótica quando criança frequentemente representa um elemento social especial numa comunidade adulta de trabalho. Ela é que sustenta a pontualidade, a consciência e o trabalho preciso, além de ser habitualmente quem, junto com o seu supervisor, mantém unida a oficina de trabalho.

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Textos extraídos do livro “Crianças que Necessitam de Cuidados Especiais”, de Thomas J. Weihs. Editora Antroposófica,1991

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