domingo, 13 de junho de 2021

O espaço e o tempo

Segundo Lucinda Dias, em seu livro Problemas de Aprendizagem.

Apesar de não ser novidade, é necessário apreender o significado do que será tratado. Sabe-se que o espaço é tridimensional e que as três dimensões são: largura, altura e comprimento. Este é só o aspecto sensorial e, portanto, só meia verdade. Com isto não se vai muito longe do pensar no espaço como sendo um lugar ocupado por objetos, seres diversos, inclusive o próprio Homem.

É um problema a compreensão do espaço e do tempo. Vivemos neles, pensamos neles, falamos neles e, entretanto, é difícil compreender a condição sob a qual surge a percepção do espaço e do tempo.

Há vasta literatura sobre este tema, principalmente na área filosófica, mas existem pouquíssimas investigações a respeito que possam levar à compreensão das condições nas quais se dão o desenvolvimento da percepção do espaço pela criança.

Percebe-se que, quando se encontra o espaço, encontra-se, também, o tempo, pois eles, no campo das experiências, não são polaridades; eles formam uma unidade. Tem crescido, cada vez mais, o número de crianças com dificuldades de se relacionar corretamente com o espaço e com o tempo e este fato é um dos aspectos mais importantes encontrados no fundamento da síndrome disléxica.

Por que isso? Porque o espaço é o “mundo” onde se encontra a forma. O tempo é o “mundo” do som.

Atrás dos fenômenos desses dois “mundos”, que surgem como efeitos de processos invisíveis, há um princípio comum aos dois: a Luz. O movimento é o processo do qual a forma e o som se originam. Isto é facilmente compreensível, lembrando o que Kutzli disse: “A linha é o rastro do movimento”. Se tenho um lápis e um papel na mão, e com eles faço determinado movimento, então, atrás deste fica a linha traçada, como um rastro, realmente. E se o movimento foi retilíneo, então uma linha reta será o resultado; se foi circular, um círculo. E assim por diante. A forma surge onde o movimento encontra a substância física, na qual pode atuar e deixar o rastro. Com o som algo similar acontece, só que aí o movimento “toca” na essencialidade das próprias coisas e o som surge. Aqui, o movimento estimula a manifestação do ser.

Um violino por si só não se faz ouvir. É necessário que suas cordas sejam movidas para que imediatamente sua “essência sonora de violino” se manifeste. No som se revela a essência das coisas.

Mas é a Luz, criando o espaço e permeando o tempo, que torna possível a revelação da forma e do som. E o que é essa Luz? Embora a resposta dada neste contexto seja extremamente reduzida, por certo servirá como um esboço de um profundo âmbito de estudos. Luz, aqui, não pode ser confundida com a luz que é gerada pela eletricidade. A eletricidade produz, através dos aparatos apropriados, a claridade que é comumente chamada de luz. Mas, assim como não podemos confundir a eletricidade com a lâmpada, também não podemos confundir a luz com a claridade.  A luz aqui considerada é a força espiritual capaz de criar substância.  Assim, a matéria é luz condensada! Encontramos os processos de Luz nas atividades perceptivas, no metabolismo etc. Por isso, também podemos ouvir no escuro. Segundo diz Steiner: “A Luz não entra no cérebro. Eu sinto a Luz com a alma”. 

Alguns pontos para maior esclarecimento:

1. A forma nasce do movimento e é revelada no espaço;

2. O som nasce do movimento e é revelado no tempo;

3. Mas, o movimento não é nem forma, nem som.

4. A Luz é o princípio criador do espaço e revelador da forma e do som.

Considerando que toda substância tem sua essência, pode-se dizer que, quando o movimento “toca” essa substância, provoca a manifestação dessa essência, provoca o som e, quando ele cessa, a forma surge fixada e o som é nela “coagulado”.  Fica claro que esse som “inaudível” existe em todo o mundo da forma, preenche todo o espaço.

Por isso é que foi dito, anteriormente, que o espaço e o tempo formam como que uma unidade. A existência de um não exclui a existência do outro. Ambos podem coexistir e a essência de um não depende da essência do outro. O movimento pode fluir em ambos. Quando se fala de espaço, o importante é a presença de objetos e seres que tem forma e não as suas essências. Esse mundo de formas é o mundo onde e com o qual se estabelece uma relação externa, através das percepções, em primeiro lugar, e depois pelos movimentos.

Em se tratando de formas, estamos aparelhados com o sentido táctil e o sentido cinestésico (do próprio movimento), para captar as impressões causadas.

A visão, em si, nada ajuda aqui e o fato de achar que “vemos” as formas é porque o olho, aparelhado por músculos, faz o movimento percorrendo as formas. Por isso se configura o sentido cinestésico também atuando no olho. Considerando só o fato de os objetos se colocarem diante de nossas percepções, nós os percebemos separados uns dos outros. Podemos ir de um objeto ao outro – cada objeto é um elemento da nossa experiência. A esta transição dá-se o nome de espaço.

Quando me relaciono com o espaço, considero as coisas separadas. Quando digo: o livro está sobre a mesa e o tapete sob ela, só estou “transitando” de um elemento para outro, como um fato colocado diante de mim e não questiono a qualidade intrínseca desses elementos. O que considero é que são separados um
do outro. Como explica Steiner, o espaço está diante da nossa alma, com um “caminho” onde nossa mente mantém as coisas dentro de uma união.

Estabelecer as relações entre as percepções dos objetos, que estavam mantidos separados, nos leva às três dimensões. Estas são diferentes entre si e estabelecem relações com elementos também diferentes. “A primeira dimensão estabelece a relação entre duas percepções sensoriais. Ela é, portanto, um pensamento concreto. A segunda relaciona dois pensamentos concretos entre si e, então,  chega-se a uma abstração. A terceira, finalmente, estabelece uma uniformidade da ideia entre as abstrações.” (R. Steiner)

Este é um conceito que considera o espaço como uma relação, uma referência. 

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